É preciso distinguir os princípios e promessas universaise atemporais que encontramos na Bíblia das instruções e orientações dadas a certas pessoas para momentos ou situações específicas, sobre as quais lemos nas Escrituras. A Palavra atemporal de Deus consiste das passagens que se aplicam a todos, em todo lugar e que jamais mudarão. Vejamos alguns exemplos: “Deus é amor”[1] é uma verdade imutável e das mais poderosas expressas na Bíblia. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”[2] é um princípio central da fé cristã e que jamais mudará. A totalidade do Sermão da Montanha e vários outros ensinamentos de Jesus são tão relevantes para nós hoje como foram para aqueles que os ouviram pessoalmente, quando Jesus os proferiu há dois mil anos.
Sua Palavra transborda com princípios e promessas belas e atemporais que se aplicam aos dias de hoje e que, lemos na Bíblia, foram registradas para nosso benefício, para aprendermos das experiências dos outros.[3] Por outro lado, há muitas passagens bíblicas que não podem ser aplicadas literalmente às nossas vidas hoje. Grande parte do Antigo Testamento é de valor histórico. São crônicas sobre o povo judeu e seus adversários. Mesmo os fundamentos atemporais estabelecidos pela Palavra precisam ser aplicados ao contexto das circunstâncias contemporâneas.
A antiga Lei Mosaica tem sido a referência para o povo judeu há milênios, apesar de a sua aplicação ter sempre gerado questões complicadas e controvertidas. Jesus lançou nova luz no assunto quando, em Seus ensinamentos, concentrou-se no amor, na misericórdia e na humildade, contrastando fortemente com o rigor e o legalismo das interpretações oferecidas pelos líderes religiosos de Seus dias e dos tempos passados.
“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho, dente por dente’ —disse Jesus no Sermão da Montanha—, mas Eu lhes digo: não se vinguem dos que fazem mal a vocês. Se alguém lhe der um tapa na cara, vire o outro lado para ele bater também. Se alguém processar você para tomar a sua túnica, deixe que leve também a capa. Se um dos soldados estrangeiros forçá-lo a carregar uma carga um quilômetro, carregue-a dois quilômetros. [...]Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos.’ Mas Eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no Céu. Porque Ele faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal.”[4]
Jesus trouxe uma nova era de fé que tornou obsoletas as regras, os regulamentos, os costumes e as detalhadas cerimônias do Antigo Testamento, veneradas pelo povo judeu havia milhares de anos.
“A lei ficou tomando conta de nós até que Cristo viesse para podermos ser aceitos por Deus por meio da fé. Agora que chegou o tempo da fé, não precisamos mais da lei para tomar conta de nós.”[5]
Juntamente com o cristianismo, os métodos, conceitos e aplicações da doutrina cristã mudaram e evoluíram com o tempo. A igreja primitiva teve o desafio de se organizar e evoluir de um pequeno grupo de crentes perseguidos para uma religião com influência no mundo de seus dias. E, a exemplo da primeira igreja, os cristãos de cada era tiveram de estar prontos para, até certo ponto, se adaptarem ao mundo ao seu redor para alcançar as pessoas e serem relevantes para o contexto do momento. Sempre que a igreja tentou estancar o processo de mudança ou não quis se adaptar aos tempos, encontrou problemas, pois tornou-se inflexível demais e controladora, ou perdeu a relevância para as pessoas, gerando assim o desinteresse no cristianismo.
Na qualidade de cristãos, devemos nos esforçar para identificar os princípios atemporais da Palavra e, ao mesmo tempo, entender que as mudanças nos contextos podem influenciar a forma como as doutrinas são aplicadas.
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